terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Não deixe Marx morrer, não deixe Marx acabar"

O Post de João sobre a “Volta do defunto” e o de Bernardo Jurema sobre o Recife e suas mazelas, me fizeram refletir sobre o fato de como as questões do cotidiano estão intrinsecamente ligadas àquilo que estudamos e como nos posicionamos diante desse cotidiano. Academia, leituras, teóricos, egos inflados, vaidades de todas as idades e de diferentes Unidades Federativas só parecem acentuar e dificultar a compreensão das nossas experiências as mais corriqueiras. A contra postura, mesmo que inconscientemente, crítica que se instaura, parece limitar a visão daqueles que de tão enfurecidos com a situação atual se colocam em posições dicotômicas e excludentes. A perspectiva que parece imperar é a de uma visão que opta por uma perspectiva monista da vida em seus múltiplos aspectos. De acordo com esse ponto de vista as polarizações e falta de necessidade de se pensar mais aprofundadamente sobre algumas categorias analíticas impedem a percepção mais acurada daquilo que deu sustentação e foi de fato a gênese do processo de conhecimento, já que se deve partir da vida em suas diferentes configurações para que daí seja viabilizado o desnudamento e a compreensão da mesma.

Não deixemos que os “mortos” morram quando eles nos são demasiadamente úteis e nem percamos a certeza de que o nosso cotidiano grita por explicações e soluções.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Crise tira defunto da cova

No Hermeneuta (no post Mundo de loucos) encontramos a seguinte informação:

Crise aumenta procura por obras de Karl Marx na Alemanha

Editora vendeu em um mês nº de cópias de ‘O Capital’ que vendia em um ano.

- A atual crise financeira global parece estar aumentando a busca por obras de um dos maios conhecidos e ferozes críticos do capitalismo: o pai do comunismo, Karl Marx.

A editora alemã Karl Dietz, dedicada a livros de pensamento de esquerda disse já ter vendido, neste ano, 1,5 mil cópias da obra mais famosa de Marx, O Capital, escrita em 1867.Só no mês passado, foram vendidas 200 cópias, o mesmo número que, no passado, costumava ser vendido em um ano.

A Dietz não é a única editora a publicar obras de Marx, mas, segundo a imprensa alemã, lojas ao redor da Alemanha têm visto um aumento de 300% na venda do livro nos últimos meses.O correspondente da BBC David Bamford afirma que muitos vêem a atual crise como um fracasso do capitalismo e que a obra de Marx poderia ajudar a entender o que deu errado. Segundo Bamford, o número de visitantes a Trier, na Alemanha, cidade natal de Marx, subiu neste ano para 40 mil.

O curador do museu da cidade afirma que já perdeu as contas de quantos visitantes ele ouviu dizer que Marx estava, afinal, certo em suas críticas ao capitalismo.

Credo cruz, será que esse povo germânico estaria pensando nessas palavras e se dizendo "eu já li isso em algum lugar"?

“Em um sistema de produção onde toda a continuidade do processo de reprodução depende do crédito, quando este acaba subitamente e somente transações com dinheiro passam a ser aceitas, é inevitável que ocorra uma crise, uma tremenda demanda por meios de pagamento. É por isso que, à primeira vista, a crise inteira parece ser somente uma crise de crédito e de moeda. E de fato trata-se apenas da conversibilidade de letras de câmbio em dinheiro. No entanto, a maioria destes papéis representam compras e vendas reais, cuja extensão – para muito além das necessidades da sociedade – é, afinal, a base de toda a crise. Ao mesmo tempo, há uma quantidade enorme destas letras de câmbio que representam mera especulação, que agora revela sua face e colapsa; especulação fracassada com o capital de outras pessoas, com o capital-mercadoria depreciado ou invendável, ou com ganhos que nunca mais poderão ser realizados. Todo esse sistema artificial de expansão forçada do processo de reprodução evidentemente não pode ser resolvido com um banco, por exemplo, o Banco da Inglaterra, entregando a todos esses especuladores o capital que lhes falta através de seus títulos, comprando mercadorias depreciadas a seus antigos valores nominais. Aliás, é nesse momento que tudo começa a parecer distorcido, já que nesse mundo de papel, o preço real e seus fatores reais desaparecem, deixando visível somente metais, moedas, cédulas, letras de câmbio e títulos.” (Karl Marx, O Capital, vol. 3, cap. XXX.)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

É bonito

Um Velho
(Konstantinos Kaváfis)

No fundo do café tão barulhento
curvado sobre a mesa pousa um velho
com um jornal em frente e sem companhia.

E na desgraça da velhice vergonhosa
pensa quão pouco desfrutou dos anos
que tinha força, e fala e beleza

Sabe que envelheceu muito: o vê e sempre o sente.
Embora o tempo que era jovem lhe parece
como ontem. Que distância pequena

E pensa, a razão como se enganava
e como a confiança sempre o louco
a mentirosa que dizia “Deixa, tens tempo ainda”.

Lembra os desejos que abnegava e o quanto
prazer sacrificava. A sua boba cuca
toda perdida oportunamente caçoa.

...Mas de pensar e de lembrar-se tanto
o velho ficou tonto. E adormeceu
na mesa do café se segurando.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Misoginia de blogue: de pessoa e/ou instituição

Adoro uma polêmica blogueira. Vamos a mais uma, e das boas.

Tentando fugir um pouco do meu último texto, que mencionou minha preocupação com o tipo de leitura que poderia ser feita do Pedagogia da punheta, eu concebo uma pequena reflexão sobre o machismo presente numa enquete sobre as musas das Olimpíadas de Pequim. A polêmica se encontra principalmente nos comentários e vai ser justamente a partir deles que irei discorrer algo a respeito.

Primeiro gostaria de me solidarizar com as opiniões da “ala feminista”. E aqui não falo de feminismo como o engraçadinho Ariston(comentários) que assim se referiu às mulheres que repudiaram com razão o texto e as fotos escolhidas para ironizar o propósito de seus argumentos. Para mim, heterossexual do sexo masculino, também é triste perceber que a misoginia (que não é a meu ver o pior de nossos males machistas, acho que a homofobia é bem mais horrenda e aceita) possa passar tão facilmente como algo natural e comum e, para fins hipocritamente cômicos, se passar por mera “brincadeira de mau gosto”.

Porém, no seu ridículo, o tal do Ariston coloca algo interessante e que deve ser pensado: “As PESSOAS de um modo geral (intelectualizadas ou não) têm seus gostos.” Uma tautologia barata, sem dúvida, mas que tem uma lógica social a ser pensada no que se diz sobre o machismo e a misoginia. Afinal de contas, quem tem direito de ser machista numa sociedade machista?

O problema levantado por Cynthia Hamilin não é propriamente da misoginia pura e simples, mas da posição institucional da mesma, o que é bem pior. Vejamos o que ela questiona: “É lamentável que um blog escrito por professores universitários reproduza este tipo de misoginia. As mulheres se saíram bem nas olimpíadas, “mas isso não importa” (que frase infeliz!): o que importa é que elas são “gostosas”. Já pararam para pensar que talvez essas mulheres prefiram ser reconhecidas como atletas que são?” A questão colocada por Hamilin é bem mais a de saber quem fala o que e o que está representado naquela fala, do que uma mera crítica a idiotice de um machista qualquer.

É claro que Pierre Lucena, cidadão sorridente e bem vestido, tem todo o direito de expressar suas opiniões sobre as qualidades que ele mais aprecia numa mulher (e não é preciso ir muito longe para entender que tipo de “visão de mulher” ele tem). Mas o problema é que Pierre Lucena fala enquanto professor da UFPE, que, se fosse instituição de respeito, pediria satisfação a respeito de opiniões expressadas publicamente tão desprovidas de valor\rigor\seriedade acadêmica, fato que coloca em jogo e em questão a própria instituição.

Volto à tautologia “as pessoas de um modo geral têm seus gostos” e ao importante adendo “intelectualizadas ou não”. Eu concordo plenamente com o argumento de Cynthia Hamilin ao mesmo tempo que reflito sobre o significado que a ruptura que ele pressupõe revela: o machismo estrutural que se desvela de maneira violenta nas maneiras de apreciar (a palavra mais apropriada seria depreciar) as mulheres exposta na enquête revela ao mesmo tempo a fragilidade da assimilação dos valores da mulher como ser humano pleno (pautados no feminismo ou além dele) no tecido social e o pouco respaldo que o debate contra a misoginia alcançou na estrutura de poder das relações universitárias. Nesse sentido, quero crer, o caso não é de feminismo pura e simplesmente, mas algo mais sério, no mínimo de denúncia de falta de decorro profissional onde alguém, em certo sentido, usando do status atribuído por uma instituição (Professor da UFPE), diz coisas não sensatas (adoro eufemismos) a respeito de seu modo de depreciar mulheres.

O machismo por parte de alguns docentes da UFPE. Indignada!

Ontem recebi um e-mail coletivo da Profa. Cynthia Hamlin. O teor da mensagem abordava o conteúdo de um blog formado por professores da UFPE, infelizmente.

Os digníssimos docentes tiveram a coragem de publicar um post sobre, "As musas das Olimpíadas". As proposições e comentários são os mais esdrúxulos possíveis e mostram como eles reproduzem práticas odiosamente machistas. O pior é que acham que estão absolutamente corretos.

Vou colocar o endereço desse blog que possui a pretensão de falar sobre política. Piada, não é?

http://acertodecontas.blog.br/esportes/musas-da-olimpada-a-minha-favorita/

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sem Título

De algum modo, tudo que pretende começar de forma despretensiosa parece que caí na esparrela da pretensão. Ou a gente é muito besta e não percebe que nossas próprias idéias pseudo-humildes são na verdade tentativas de chamar a atenção para algum fato, acontecimento, ou realmente fomos tomados, constituídos socialmente, ao longo de nossa caminhada acadêmica, familiar, etc., para uma visão de mundo e do mundo que nos indica uma direção de oposição a tudo o que se compreende como sendo arrogante. Sei que ultimamente estou tendendo para uma perspectiva que segue por um único caminho, mas de uns tempos pra cá (vejam, não sei se esse espaço é destinado pra desabafos, mas de todo modo, sinto-me à vontade para fazê-lo).
Quando eu deixo de intitular algo isso significa que já estou intitulando, isso é óbvio. Contudo, esse meu início foi só um pretexto para falar o que realmente quero. Lembro-me uma vez que numa aula de alguma disciplina do doutorado eu falei (coisa rara!) sobre algo que tinha uma acepção semelhante, na forma de pensar, do que expus acima. Até hoje, e pela reação de alguns colegas, acho que falei alguma coisa que possuía certa coerência. Mas a questão que perpassa minhas idéias é se concretamente nossos atos são de alguma forma, coerentes.
Por mais racionais que tentemos ser, tudo parece que se mistura. Tomemos a mim como exemplo. Apesar de tentar agir de forma racional, e acho que tenho posto isso em prática em termos acadêmicos, na minha vida afetiva, as coisas que antes me pareciam tão coesas e definidas, foram sendo mitigadas, inicialmente, de forma repentina, e mais tarde de maneira lenta e gradual. Isso me fez perceber que um ser social não pode ser apartado de suas relações, como um todo.
Ao retomar meu projeto de tese, sobretudo, meu plano de tese, percebi que continuo muito presa ao que tanto queria me desvencilhar que é a análise do pensamento de Lukács. Não acho que esse seja um exercício menor, mas a sensação que tenho é a de que ainda não entrei na pesquisa que quero fazer. Estou fichando três capítulos da sua obra final, “A Ontologia do Ser Social”. É interessante que a cada nova leitura se torna perceptível um amadurecimento de quem lê. Fico na esperança de que com o término ou interrupção desse meu fichamento eu possa vislumbrar algo mais prático, em todas as instâncias da minha vida, se é assim que se pode nomear.
Todavia, acredito que Lukács[i] está correto quando afirma que “uma posição crítica só é fecunda quando é capaz de reconhecer as contradições da posição criticada, seu eventual aspecto progressista” (1969:169)





[i] HOLTZ, H., H. KOFLER, L. e ABENDROTH, W. (1969). Conversando com Lukács.
Tradução de Giseh Vianna Konder. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Aziz Ab’ Sáber em contraposição ao pedantismo acadêmico

Há duas semanas tive a oportunidade de na SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que ocorreu em Campinas, assistir a uma palestra do maior geógrafo brasileiro vivo, Aziz Ab’ Sáber.
Hoje pela manhã também tive a possibilidade de conferir, infelizmente, a existência de uma diferença absurda e gritante entre a maturidade de um grande educador e pesquisador e a imaturidade e o pedantismo de alguns jovens que pouco ou nada sabem sobre o fazer ciência humana. Aparentemente, e me desculpem os pré-julgamentos que nesse caso me parecem inevitáveis, a falta de uma perspectiva humanística dos jovens com os quais topei.
Poucas vezes na minha curta vida acadêmica tive o privilégio de presenciar uma aula sobre geografia, algo distante do meu campo de pesquisa (o que não deveria ser, mas...). Quando Ab’Saber começou a discorrer sobre suas experiências de pesquisa, o mapa físico, político e econômico do Brasil fora se desenhando na cabeça da maioria dos presentes, tal a sua capacidade de transformar algo difícil de compreender em um exercício cognitivo acessível e de fácil apreensão. A sobreposição desses três aspectos formava um todo bonito de se imaginar, palpável e ao mesmo tempo preocupante, tal a profundidade das diferenças sócio-econômicas existentes no nosso país. Norte e Nordeste foram os focos principais da apresentação dele. A primeira região, por suas pesquisas sobre uma comunidade no Pará e a segunda, por desenvolver uma abordagem, de modo a se posicionar, acerca da transposição do Rio São Francisco. Sem entrar nas explicações sobre os estudos feitos por ele, foi fundamental perceber como Ab’Saber apresentou cientificamente as duas regiões de uma maneira pouco vista. A importância da pesquisa de campo, as leituras, o conhecimento adquirido nos livros, nas pesquisas in loco e nas conversas/entrevistas com a população dos locais pesquisados possibilitaram ao estudioso uma formação científica profunda e sem os preconceitos existentes na minha visão imatura, como fica claro ao me referir aos jovens de perspectiva pouco humanista.
Bem, voltando aos “meus jovens” compreendi logo imediatamente que eles são estudantes de Ciências Sociais da UFPE, portanto, do CFCH. Até o início de agosto, realiza-se na UNICAMP o Encontro Brasileiro de Ciência Política. Os narizes em pé, ou a timidez dos jovens me fizeram voltar a Ab’ Saber e observar que a maturidade e um longo percurso trilhado com uma dose significativa de humildade podem transformar a ciência e o ser que a produz em algo crítico e reflexivo. No meu “achismo” acredito que mesmo que esses estudantes, que provavelmente são bem esforçados academicamente, distanciam-se sobremaneira de um Ab’ Saber. Não na genialidade, mas na capacidade de pensar sobre si mesmos como futuros cientistas e de refletir sobre o que irão produzir.
Ao fim da palestra do Prof. Aziz Ab’Saber, ele fez uma comparação contundente e bela entre um episódio presenciado no Norte do país e outro visto na TV, na cidade de São Paulo. As diferenças que perpassam o Brasil fizeram o pesquisador do alto dos seus 83 anos se emocionar e conseqüentemente emocionar a todos nós. O primeiro estudioso a classificar o território brasileiro em domínios morfoclimáticos foi aplaudido de pé.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Divulgo aqui, acho importante.

Texto retirado na íntegra daqui.

CARTA ABERTA AO GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO, AO SECRETÁRIO DE DEFESA SOCIAL E À SOCIEDADE PERNAMBUCANA
" Vimos, através desta, expressar nosso sentimento de revolta, indignação e dor, diante da perda de nossa querida Duda, Maria Eduarda Ramos de Barros, assassinada na sexta-feira, 18 de julho. De um lado, um sofrimento que nos paralisa frente à crueza dos fatos e à impossibilidade de desfazer uma conduta policial não apenas equivocada, mas violenta e irreparável. De outro lado, o sentimento de revolta que nos impulsiona a gritar, a exigir justiça, a mobilizar a força que é possível para não permitir que Duda seja apenas mais um número a se contabilizar nos índices de violência.
A morte de Duda não foi apenas uma fatalidade, um acidente. Sua morte foi um assassinato provocado pelo despreparo e incompetência da Polícia que, tomando a farda como escudo protetor, resolveu atirar arbitrariamente contra uma família e um adolescente, que, igualmente armado, não atirou, jogando-se no carro das vítimas e abraçando-se com uma criança, tamanha a atrocidade policial. Duda teve seus sonhos, seus projetos, sua vida arrancada e os demais que ali estavam passaram por momentos que não deveriam existir. A que ponto chegamos e a que caminho essa situação de barbárie vai nos levar? O medo é intenso, a revolta diante de um sistema falho é significativa, a dor frente à perda é inominável. A consternação diante da faixa estampada no velório é absurda! "Tirem a PM das ruas. Os bandidos MATAM menos".
O art. 13º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promovida pela ONU e adotada, desde o princípio, pelo Brasil, enuncia que "Toda pessoa tem o direito de livremente circular". Ainda, nossa Constituição Federal de 1988 reza, no art. 5º, XV, que "é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens". Curioso que, em plenos aniversários da Declaração e da nossa Constituição, respectivamente com 60 e 20 anos, este direito esteja sendo cada vez mais arrancado dos seus cidadãos, que deixam de sair para confraternizar com amigos, que mudam horários e roteiros, que impedem seus filhos de viver uma vida normal por causa do pavor de ultrapassar os portões de casa.
Recorremos, nesse momento, a quem podemos recorrer, ao Estado de Pernambuco, à Secretaria de Defesa Social, em busca de uma resposta, de um posicionamento, da segurança de uma postura que transmita confiança e, sobretudo, imparcialidade frente às investigações do dano causado não apenas à nossa família, mas aos brasileiros, que se sentem acuados, amedrontados, inseguros e que se solidarizam e compartilham de nosso sofrimento. Não podemos deixar de citar nossas crianças brasileiras que se apresentam confusas e assustadas. Que referencial de segurança pública podemos apresentar-lhes?
O episódio ocorrido, em poucos dias, sairá das manchetes dos jornais e das redes televisivas, mas permanecerá como uma marca na vida de toda uma família e na memória dos brasileiros que, cada vez mais, amedrontam-se diante de uma Lei e de uma instituição policial enfraquecidas.
Uma tragédia que vem a refletir, não apenas o ato inconseqüente de dois cidadãos, armados e autorizados pelo Estado a garantir a segurança da população, mas também um furo e um equívoco do sistema de segurança de nosso País. E, uma vez tendo ocorrido em Recife, denuncia e corrobora o elevado índice de violência que nós, pernambucanos, temos enfrentado, exigindo, para tanto, a responsabilização e a punição, não apenas dos dois policiais, mas a implicação da instituição como um todo. Uma intervenção para que outras Dudas e outras famílias não venham a pagar por faltas, incompetências e irresponsabilidades que não lhes são concernentes.
Em contato com o Plano Estadual de Segurança Pública (PESP-PE), elaborado em 2007, deparamo-nos com o Projeto Pacto pela Vida, um projeto muito bem redigido e articulado entre vários atores sociais - a Polícia é um deles - engajados com a questão da segurança à população pernambucana. "Reduzir a violência, com ênfase na diminuição dos crimes contra a vida" é seu objetivo fundamental. O direito à vida é apontado como principal meta, além de outros valores, dos quais citamos: a qualificação da dimensão repressiva e coercitiva com uma forte ênfase sobre os aspectos de prevenção social e específica da criminalidade violenta; e a transversalidade e integralidade das ações de segurança pública a serem executadas por todas as Secretarias de Estado de forma não fragmentada.
Na página 63, é destacado que "[...] a coercitividade está incorporada como eixo central do PESP-PE e está diretamente relacionada à garantia da realização dos direitos humanos, especialmente dos direitos à vida e à liberdade. Contudo, a repressão em condições da criminalidade moderna e sofisticada não deve ser reativa, mas pró-ativa [...] o efeito resultante é a obtenção da segurança como um bem público universalizado. [...]" Acrescenta abaixo que essa eficiência e eficácia contribuem para a "alteração positiva da percepção da população sobre a capacidade de resposta estatal ao problema da violência". (p.63)
Constatamos a ênfase, na página 90, na melhoria da percepção da sociedade a respeito dos policiais militares como objetivo do Projeto Comunicação Social PMPE; e, mais adiante, na página 94, o estabelecimento de procedimentos operacionais padrão para orientar o exercício das funções da PMPE, levando em consideração o respeito aos Direitos Humanos, como objetivo do Projeto Procedimento Operacional Padrão (POP).
De posse desse material, que, assim o esperamos, deve estar trazendo resultados para a população pernambucana, é inconcebível pensar que, mais de um ano após sua implementação, tenhamos que enfrentar tragédias como a morte de Duda e, não esqueçamos, o profundo ferimento físico e psicológico às demais pessoas também atingidas. Uma atuação que fere a conduta humana de um policial e transgride os princípios do referido documento, passando a ser questionado o uso que vem sendo dele feito nas várias instâncias do governo.

A Polícia, nesses casos, aumenta o índice de violência, ao invés de trabalhar a favor de sua redução e do direito à vida, como tão claramente apregoa o Plano Estadual. Que percepção esperam de nós a esse respeito?
O que cantar, agora, em glória e louvor a Pernambuco? Terra linda, com certeza! Temos uma riqueza cultural incrível que o Senhor, Governador, está sabiamente conduzindo propostas de uma maior atração para o turismo pernambucano. Todavia, pensamos que turista não busca apenas a "terra dos altos coqueiros de beleza estendal!", conforme descreve Oscar Brandão, no Hino de Pernambuco. O que pensar de uma terra que está no índice de uma das regiões mais violentas do país? A tragédia surgiu não daqueles que compõem esse índice, numa perspectiva epidemiológica, mas da instituição que, supostamente, existe para proteger a população. "Nova Roma de bravos guerreiros"? Talvez verdadeiros guerreiros lutassem, sim, pela imortalidade de Pernambuco, como sugere seu hino. Os atuais "guerreiros-policiais" parecem buscar o seu oposto.
Em site da Internet lê-se: "Maria Eduarda foi apenas mais uma vítima de sucessivos equívocos (ou "cagada", na palavra de um PM) da polícia nas últimas semanas". Gíria infeliz essa; mais infelizes os PMs que dela se utilizam para se referirem ao assassinato de uma criança. Lamentável... Fica o desejo de que Duda, assim como João Roberto, Rafaeli e Luiz Carlos, entre outros, não sejam "apenas" mais uma vítima, mas que representem o urgente processo que dê um basta à violência em nosso País.
Ratificamos aqui a necessidade e a exigência de que a justiça diante da injustiça cometida pelos (ir)responsáveis pela morte de Duda seja feita.Recife, 25 de Julho de 2008.
Família indignada de DUDA e seus amigos.Pernambucanos igualmente indignados”

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Bataman Gay e Algumas questões sobre o A Dominação Masculina

Fui ontem assistir ao novo Bantman. Gostei e não vou comentar muito do filme para não ser estraga-prazer: “o mocinho morre no final, o mocinho morre no final, o mocinho morre no final!”. E o mocinho não é Batman, entendem?

Na verdade ter visto “O Cavaleiro das Trevas” é mais um pretexto para falar outra coisa: o tratamento analítico de política dos movimentos de homossexuais. Um tema que é de difícil abordagem, entendam! Mas não seria nada ruim usar Batman como ensejo, uma vez que a personagem central do filme vive a maior das antinomias experimentada pelos movimentos gay e lésbico: o dilema da visibilidade e o da invisibilidade no espaço público. O que é uma ótima dica de leitura do filme, não acham?

Bem, como diria Paulo Honório. Continuemos.

Eu concordo e não é de hoje com a seguinte afirmativa: “o movimento gay e lésbico põe ao mesmo tempo tacitamente, pela existência de suas ações simbólicas, e explicitamente, pelos discursos e as teorias que ele produz ou os quais ele dá vazão, certo número de questões que estão entre as mais importantes das ciências sociais e, algumas delas, são realmente novas.” (Bourdieu, 1998, anexo).*

Mas antes de concordar com tal afirmativa eu já tinha essa intuição. No ano em que entrei na universidade (1998) terminei sendo motivo de brincadeiras de amigos por ter defendido a idéia segundo a qual o “homossexualismo era um assunto importante para a sociologia”.

Dessa forma esse tema me parece ser dos mais importantes não apenas pela dificuldade específica de tratar de categorias que “definem” ou “se definem” a partir de critérios tão difíceis de “fixar” como “gays” ou “lésbicas”, mas também pela dinâmica mesma de ter que enfrentar, socialmente, enquanto homem e hetero que sou, os medos e receios que a própria sociedade criou para mim e que eu assimilei e reproduzo de varias maneiras.

Resumo na pergunta que faz Bourdieu em seu texto sobre o assunto o que existe de difícil na abordagem sociológica de classificação e categorização dos movimentos gay e lésbico: “se deve tomar como critério as práticas sexuais – mas quais, as declaradas ou as escondidas, efetivas ou potenciais, a freqüência em certos lugares, um certo estilo de vida?” (Ibid,1998, anexo). Vejam que essa dificuldade especifica não existe de maneira tão evidente quando se fala de feminismo porque a “feminilidade” se caracteriza aquém e além das práticas sexuais.

A própria dificuldade de abordar o tema com as ferramentas usuais da sociologia, por si só, já traria um largo leque de possibilidades heurísticas do ponto de vista da produção do conhecimento sobre o social. Mas apesar de todo esse campo de possibilidades novas, eu gostaria de me ater aqui a algo que antecede esses problemas no livro supracitado: o ponto de vista de Bourdieu sobre o feminismo porque, por desconhecimento ou má vontade, ou mesmo por exagero feminista, sua reflexão sobre o assunto, que é tributária de seu trabalho mais extensivo sobre outros domínios do mundo social, foi julgada como uma visão meramente “masculinista” tirando a atenção do essencial em sua argumentação.
Contexto de minha opinião

Tive a oportunidade de durante o meu doutorado participar de alguns seminários de aula com Betânia Ávila do SOS Corpo. Nas poucas e boas conversas que tive com ela pude falar da perspectiva analítica a qual Bourdieu encarnava. Naquele momento de sua vida, que é o momento em que ele escreve o La domination Masculine, cujo anexo elabora algumas reflexões sobre o movimento gay e lésbico as quais me referi, ele está admitindo uma postura política mais forte e mais “engajada” do que a que ele admitia para si em épocas remotas de sua produção acadêmica (ler a esse respeito o artigo de Jean-Claude Passeron “ Mort d um ami disparition d um penseur” que foi publicado em português no livro Trabalhar com Bourdieu). Nessa visão tardia de Bourdieu de ciência não se pode perder de vista, no meu entender, aquilo que o sociólogo entendia como função da sociologia crítica, que é derivada da reflexividade específica de uma sociologia dos condicionamentos sociais e de daquilo que ela pode produzir.

Explico-me. Uma das críticas que mais ouço a respeito do A Dominação Masculina é que o autor não fala em seu livro das mulheres, mas, como diz o título do livro, da dominação masculina, ou seja, do homem. Ora, por má fé ou preciosismo de linguagem, não se percebe com esse tipo de crítica algo essencial na postura crítica de uma sociologia que visava captar condicionamentos com vista ao entendimento mais preciso do que Bourdieu chamava de efeito de doxa, em bom português: tudo aquilo das lógicas de funcionamento do mundo social que faz que as obrigações e interdições do mundo sejam de alguma maneira respeitadas, fazendo que os atos de subversão e delitos (portanto visados pelas feministas como instrumentos políticos de transformação de um estado de coisas dado) sejam encarados como “exceções”, ou como “loucuras”, “desvarios”.

Como exemplo dessa visão de ciência dele, vou trazer a metáfora que Bourdieu usara para falar dos efeitos que possivelmente ele gostaria de ver a sociologia produzindo, principalmente a dele. Falando do sonho que a especie humana sempre nutriu pela idéia de voar (pensando em Icaro), Bourdieu lembrava que foi estudando a gravidade, ou seja, todos os condicionamentos que fazem o homem(enquanto espécie) se manter colado ao chão, que se abriu a possibilidade para realização desse sonho. Pois bem, Bourdieu tem consciência de que entre o conhecimento dos condicionamentos sociais e a liberdade que esse conhecimento pode ajudar a produzir existe um vasto hiato que só pode ser alcançado por uma atitude política diante do próprio conhecimento e do mundo. Mas concebe que a sociologia deva estudar aquilo que produz a necessidade do feminismo, a gravidade que limita o vôo da mulher, a dominação masculina.

É desse ponto de vista que as qualidades e defeitos do livro deveriam ser tomados, acredito.
Fico aqui com um trecho muito bonito do livro, quase lírico, lírico a seu modo evidentemente, onde Bourdieu fala sobre nada mais nada menos que o amor:

“[...] o corte com a ordem ordinária não se completa de um só golpe e de uma vez por todas. Ele se faz somente por um trabalho de todos os instantes, sempre recomeçado, que talvez arranque das águas frias do calculo, da violência e do interesse “da ilha encantada” do amor, esse mundo fechado e perfeitamente autárquico que é o lugar de uma série continua de milagres: aquele da não-violência, que torna possível a instauração de relações fundadas sobre a plena reciprocidade e autorizando o abandono e a reencontro (remise de soi) de si; aquele do reconhecimento mutuo, que permite, como disse Sartre, de se sentir “justificado de existir”, assumido, até dentro de suas particularidades as mais contingentes ou as mais negativas, dentro e por uma espécie de absolutização arbitrária do arbitrário de um encontro (“porque era ele, porque era eu”); aquele do desinteresse que torna possível as relações desistrumentalizadas, fundadas na felicidade de dar felicidade (bonheur de donner du bonheur), de encontrar dentro do maravilhar-se com o outro, notadamente no emaravilhamento que ele suscita, as razões inesgotáveis para maravilhar-se.” (Bourdieu, 1998, p.117) *

PS: Depois comento o anexo do livro que se chama “Questões Sobre o Movimento Gay e Lésbico” e que acho muito interessante. Sobre o que acontece atualmente em Pindorama sobre o assunto, texto interessante aqui.
*BOUDIEU, Pierre.(1998) La Domination Masculine, Paris, Seuil.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Vigilância Sanitária

Estava relendo umas coisas sobre metodologia da pesquisa na sociologia para reavivar a memória com alguns procedimentos quando me deparei com a seguinte frase:



“ A educação do pensamento científico ganharia em explicitar essa vigilância da vigilância que é a nítida consciência da aplicação rigorosa de um método. No caso, o método bem designado desempenha o papel de um superego bem psicanalisado no sentido em que os erros aparecem em uma atmosfera serena; além de não serem dolorosos, são sobretudo educativos.” (G. Bachelard... em algum lugar do Racionalismo Aplicado.Meus itálicos).


Eu já havia lido isso antes. Meu projeto de tese foi formulado em cima dessa postura da “vigilância da vigilância” por acreditar que em sociologia, mais do que em outras disciplinas, os métodos escolhidos informam sobre o tipo de conhecimento a ser elaborado. E que os erros de procedimento, que só podem ser julgados se comparados a outros, são os motores do rigor e da qualidade do trabalho propriamente analítico. Dessa forma historicizei meu projeto sendo sua própria feitura uma genealogia dos procedimentos e das escolhas adotadas para construção de minha problemática de estudo e objeto. Resultado: fui questionado a respeito da forma (que não trazia a clareza –respostas- de como as tarefas iriam ser realizadas) e do conteúdo (ora eu tinha dois objetos de estudo e não um, ora eu não tinha nemnhum objeto de estudo nítido). Além disso, ouvi uma piada a respeito da vigilância sanitária, que não levei a sério porque imagino que algumas posturas intelectuais podem realmente servir de profilaxia no domínio da produção de idéias.

Mas o que me veio a mente ao reler isso é que nunca havia dado a devida importância ao paralelo feito por Bacherlard entre o processo de produção do conhecimento e a psicanálise. “Erros aparecidos numa atsmosfera serena” ecoam aos meus ouvidos como um pedido, uma súplica por um contexto de produção que se assemelhe mais com a “situação de análise” de uma relação psicanalítica. Lugar onde na “suspensão das dores” encontraríamos forças para “compreendermos melhor a nós mesmos” porque o confrotar-se consigo mesmo, nos termos novos da relação analítica, impõe limites ao superego, numa vigilância da vigilância pacificadora do Eu.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Enquete: Dialogos Dissonantes

Olá Pessoal,

no final da página coloquei uma pequena brincadeira para decidirmos a mudaça do nome do nosso blogue de maneira democrática. Então, é só votar. E, caso queira manifestar opiniões o espaço do blogue tá ai!

A produção do blogue vem aumentando exponecialmente. O limite, é não ter limites!

valeu pessoal,

Jampa.

Por Que Diálogos Consoante?

Bem, apenas para dar um pouco de história a quem interessar possa...
Nossas conversas sobre as diversas inquietações que aflingem as mentes doutorandas de jovens felizes da vida e ao mesmo angustiados pela dinâmica da vida acadêmica... resultou em uma vontade, ainda não posta em prática, de reuniões - seja em nossas casas, nos bares, nas praias, onde for - para dividirmos as inquietações e vontades de discutir coisas que permeiam essas nossas mentes e vidas... minha vontade era de estudar Literatura Brasileira de uma forma divertida, conversada, dividida; Jampa queria discutir Sociologia e Cefichianismo (termo sociológico por ele cunhado!!); Lula queria conversar sobre muita coisa e deixar registrado isso; e Gláucia ficou animada com a possibilidade de encontrar amigos que queriam o mesmo que ela...
Eis que procuramos um nome e tentamos marcar um primeiro "rendez-vous" (que por sinal, aconteceu sexta-feira numa das mesas do Central!)... Conversas Consoantes surgiu por percebermos que nossos nomes todos começavam com 'consoantes'. Então adoramos o som e significado que percebemos!! "Ótimo, será 'Conversas Consoantes'!!"
Evidentemente que quando o filho nasceu, e outras pessoas passaram a participar, Consoantes apareceu como antônimo de Dissoantes, o que não fazia sentido, visto a qualidade dos "posts", absolutamente diversificados!
Provavelmente mudaremos o nome, mas quero deixar essa pincelada de história aqui.
Besitos!

Que deixem as rosas

Que deixem as rosas

Não nos dêem rosas
Não queremos rosas
Se já não podemos ter as que se foram
As que nos foram arrancadas
Despetaladas
Despedaçadas
As que já não respondem quando chamamos

Que deixem nossas rosas
Rosa Amélia, Rosália,
Rosane, Rosamaria,
Rosa Clara, Rosa
Rosas

Não nos dêem rosas que nada significam
Não queremos presentes
Já estamos presentes
Como estivemos no passado
Como estaremos no futuro
Como estamos agora

Com toda coragem
Que não merece o descaso dessas rosas vendidas
O dia da mulher são todos os dias
Assim como o seu lugar
Todos

O batom vermelho não diz quem somos
No oitavo dia do terceiro mês reafirmamos necessidades
De luta
De justiça
De igualdade

No oitavo dia lembramos as rosas queimadas
Aprisionadas
Desumanizadas
Lacradas
Emudecidas

Não nos ultrajem
Não nos subjuguem
Não queiram ferir nossas mãos com essas rosas oferecidas
Já temos nossas Rosas
Com cabeças que pensam
Bocas que falam
E gargantas que gritam

Que gritam não para a impunidade
Não para a violência
Não para o descaso


Kaliani Rocha
(Em protesto contra a comercialização do dia da mulher)




segunda-feira, 2 de junho de 2008

Dialogos Dissonantes no MSN (e platônicos)

Em alguma janela na internet...
[Sem Data Nem Horário] Fortunato Pata-de-Elefante diz: ei doido, qual é teu Marco Teórico?
[02/06/2008 23:28:42] Martinho Ferrador diz :meu marco teórico é Aristóteles e Platão - eu faço uma síntese, tá ligado?
[02/06/2008 23:29:03] Fortunato Pata-de-Elefante diz :hahahha
[02/06/2008 23:29:35] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Meu irmão. Tu num sabe de nada. Porra de Aristote e Plutão. Marco Teórico era um cara lá do Ibura, tá ligado...
[02/06/2008 23:30:05] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Ele ficou conhecido lá. Matou uma tal Dona Pesquisa. Mas essa velha era chata, ninguém gostava dela mesmo.
[02/06/2008 23:30:16] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Três balas na cabeça da velha doida.
[02/06/2008 23:30:25] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Botou pra fuder.
[02/06/2008 23:31:11] Fortunato Pata-de-Elefante:A galera gosta dele, porque essa Senhora dava dor de cabeça a todo mundo.
[02/06/2008 23:31:27] Martinho Ferrador diz :o bom do Marco é que o bicho gosta de começar tudo, né? qualquer papo ele monopoliza!
[02/06/2008 23:31:52] Fortunato Pata-de-Elefante diz : O Marco se agarante demais!
[02/06/2008 23:32:10] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Antes mermo de se perguntar ele já explica tá ligado...? né qualquer um não!
[02/06/2008 23:32:33] Fortunato Pata-de-Elefante diz :e se você discordar, doido, tá fudido, porque Marco bota pra fuder.
[02/06/2008 23:32:41] Martinho Ferrador diz :eh mermo...
[02/06/2008 23:33:23] Fortunato Pata-de-Elefante diz :( Marco é real, doido, não é um diálogo platônico não! heheheh)
[02/06/2008 23:33:44] Martinho Ferrador diz :e teu amigo Marco libera os agentes ou prende os agentes sociais? Teu amigo marco é gente boa com os agentes sociais? (a galera que vai fazer trabalho social lá no Ibura?)
[02/06/2008 23:34:32] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Oa, Marco é muito ligado nessa coisa de Agência contra Estrutura, tá ligado.
[02/06/2008 23:34:36] Martinho Ferrador diz :Eu ouvi dizer que teu amigo Marco bota pra fuder nos agentes. Mas tem uma boyzinha, que tem outro amigo Marco, e que ele é super gente boa com a galera, deixa ela fazer o que quiser.
[02/06/2008 23:35:30] Fortunato Pata-de-Elefante diz : Meu amigo libera os da Agência (Agência é o nome do puteiro lá do Ibura, tá ligado!) e prende os da Estrutura (que é a galera Associação de Moradores de lá também)... Marco é gente boa. Ele tá com a Agência, que libera. Nunca com a Estrutura, ta ligado? Estrutura prende. Esse outro Marco que tu falou aí é daquela galera lá do determinista. Maió sugeira doido!
[02/06/2008 23:35:59] Martinho Ferrador diz :Eh verdade que teu amigo Marco Teórico é francês?
[02/06/2008 23:36:20] Martinho Ferrador diz :Por que eu ouvi falar que os melhores Marcos são estranjas, tudo gringo!
[02/06/2008 23:36:46] Fortunato Pata-de-Elefante diz : Sei direito não.Ele vive tirando onda, dizendo que se dá bem nas Europa e nos EstadoZunidos, tá ligado.
[02/06/2008 23:37:09] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Se agarante, rapai. Né um zé mané do Brasil não... Aprendeu de fora. Se ligue mermo, né assim não doido.
[02/06/2008 23:37:23] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Ele só gosta de coisa fina, importada.
[02/06/2008 23:37:44] Martinho Ferrador diz :Aquela professora inglezia, adora um Marco, né?
[02/06/2008 23:38:35 Fortunato Pata-de-Elefante diz : Mai teco. Marco faz que tem gente rapai, tu num sabe, ele faz que tem gente que escreve um texto em português sobre autor sueco só com referencias em alemão, dá pra tu? tu se agarante?
[02/06/2008 23:39:03] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Ela gosta muito de Marco essa professora ai. Mai teco.
[02/06/2008 23:39:20] Fortunato Pata-de-Elefante diz :Dizem todos abrem pra esse tal de Marco.
[02/06/2008 23:39:30] Martinho Ferrador diz :Tô ligado que Marco tá passando rodo geral nas boyzinhas do CENTRO DE FOFOCAS COTADAS SARCASTICAMENTE (CFCH).
[02/06/2008 23:40:25] Fortunato Pata-de-Elefante diz :totalmente!" Pode passar o rodo, e me mandar embora, que eu vou ficar com o Marco lá do lado de fora!" É o funk do Marco, o Teórico...
ps: Esse texto foi fruto de horas e horas de divagação sobre a filosofia dioreica de Platão. As idéias foram todas tiradas de aula ministrada pelo professor Cesiobaldo Rosa Melo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Kafka: Um estranho que me causa estranheza e me emociona, sempre.

Estive pensado muito em Kafka de uns dias pra cá. Provavelmente por influência da minha amiga Adriana Tenório, doutoranda em sociologia da UFPE. Ela está cursando uma disciplina oferecida pelo Prof. Jonatas Ferreira sobre Sociologia da Modernidade. Na bibliografia consta um conto do tcheco.
Que conto! “A Colônia Penal”. A primeira vez que li esse pequeno texto descobri o quanto Kafka me causava sentimentos diferentes. Inicialmente, eu percebi que o odiava. Lógico, como ele podia fazer aquilo comigo e me deixar tão mal? Que diabos de escritor era aquele que provocava tanta admiração e mexia tanto comigo. Eu que desenvolvi uma perspectiva cartesiana que buscava sempre um entendimento “total”, mas vislumbrava, sim, saídas e possibilidades de mudança. Mas Kafka também partilha de uma perspectiva cartesiana, oras! Sim, e daí? Esse é o problema, ou a solução. Daí me lembrei de uma música do Alice in Chains, “Love, Hate, Love” escrita por Layne Staley, vocalista da banda em questão morto em 2002 em conseqüência de uma overdose. Layne fez a música para a namorada dele, Demi Parrot, também morta em conseqüência de uma bactéria no coração adquirida por uso de seringas contaminadas. A letra expressa algo próximo ao que sinto em relação a Kafka. E é justamente isso que torna a nossa relação tão conturbada e próxima.

“I tried to love you; I thought I could
I tried to own you; I thought I would
I want to peel the skin from your face
Before the real you lays to waste

You told me I'm the only one
Sweet little angel- you should have run
Lying, crying, dying to leave
Innocence creates my hell

Cheating myself; still you know more
It would be so easy with a whore
Try to understand me little girl
My twisted passion to be your world

Lost inside my sick head
I live for you but I'm not alive
Take my hands before I kill
I still love you, I still burn
Love, hate, love”

Li “Na Colônia Penal” antes de dormir há uns sete anos. Que baque! Não dormi direito e fiquei muito inquieta. O racionalismo, a falta de previsibilidade, o misticismo, o desencantamento do mundo, um pessimismo aparentemente extremo. Tudo isso me pareceu triste demais. Será que não haveria saída para o nosso mundo? Por que as coisas tinham que ser percebidas de forma tão dura? Pensava e lia sempre sobre a possibilidade de uma mudança no status quo capitalista, mas com ele isso parecia inviável.
Na verdade, a mudança radical que tanto sonho (ou sonhava) é realmente inviável pra Kafka, mas as saídas existem. Elas são desenvolvidas por nós mesmos, mas de forma circunscrita e dentro do entendimento das sutilezas, da observação acurada e paciente das possibilidades exíguas, mas que muitas vezes estão próximas de nós e que podem ser praticadas dentro de um processo de auto-reconhecimento. Claro, que isso não é algo inexorável, para ele.
Aí Adriana me fez rever como a modernidade afetou as pessoas de maneira tão distinta. Ele um judeu tcheco filho de um pai rígido e que cobrava tanto do filho cheio de talento. Talento esse desenvolvido ao longo de suas experiências pessoais e intelectuais. Não que eu veja essas instâncias de maneira estanques, mas aí entra minha própria perspectiva e minhas influências teóricas as quais venho tentando me desapegar.
Então eis que fiz a grande descoberta: Eu simplesmente o amo. Tenho grande admiração por suas obras. E a raiva inicial foi causada pela minha própria impaciência em tentar entendê-lo. Minha visão era muito estreita e rasa para tal coisa. Esses eram dois motivos importantes, mas não o maior, o mais relevante. Ele mexia com minha busca por certezas. Gostaria muito de poder entender coisas e acontecimentos que muitas vezes não são suscetíveis de uma explicação absoluta. A vida é cheia de mediações, as pessoas e suas atitudes.
Nada é preto no branco, a vida é complexamente simples. O estranho tcheco que me causou tanta estranheza me fez ver, anos mais tarde, o quanto o estranhamento é importante tanto para o repensar sociológico, como para nossa própria vida. Sem ele nossa existência se torna simplória, na medida em que não paramos para pensar com profundidade o que acontece ao nosso redor. Tomamos as aparências como verdades e caímos nas obviedades, mais palatáveis e acessíveis. Kafka pode ser tudo, ou quase tudo, menos simplório. E a máquina implacável, desenvolvida pelos indivíduos, que escrevia a sentença no corpo do condenado poderia ser modificada ou ter no lugar do condenado, inocente e desconhecedor do crime ao qual fora acusado, liberto pelo seu próprio algoz.

Minha tese e sua relação com o mundo (cefichiano)

Oi Pessoal,

novamente eu por aqui. Nesse post trago uma reflexão acerca de meu trabalho de tese buscando enquadrà-lo no debate sobre as formas de entender o trabalho sociologico no CFCH. Divido com vocês parte do texto que escrevi para apresentar no BRASA IX. Como ele foi escrito depois de minha defesa de projeto, nele se encontra uma série de preocupações oriundas das leituras criticas que recebi dos professores que avaliaram o projeto. São essas "interferências" ocasionadas pela recepção que gostaria de pensar porque são elas que podemos chamar, para bem e para mal, de "dedos do PPGS" em nossos trabalhos. Vou colocar em caixa alta meus comentarios sobre a interlocução implicita ao texto. Então vejamos:

Abstract ( Resumo)

A sociologia da literatura com a qual trabalhamos busca associar no nível de sua elaboração uma sociologia dos intelectuais com uma sociologia das obras (levando em conta a produção e recepção dessas obras). Nesse sentido o trabalho literário e a vida de Graciliano Ramos são tomados a partir de um vinculo de condicionamentos oriundos das lógicas sociais que, naquele momento histórico, tornam possível a construção de uma posição social impar para o romance social equivalente ao lugar atribuível as ciências sociais (em termos, sobretudo, de sua função socio-analítica, de fonte de conhecimento sobre o mundo social). A idéia de sociologia implícita, central em nossa argumentação e análise sociológica da obra literária de Graciliano Ramos, aparece assim fundada e fundamentada num universo empírico que reforça a legitimidade dessa idéia, porque os intelectuais da época realmente liam o romance social como fonte de informação sociológica a respeito do Brasil de então.
ESSE ABSTRACT FOI O MESMO QUE FIZ PARA APRESENTAR OUTRO TRABALHO, NO CONGRESSO DA SBS. PEçO QUE ATINEM PARA O CARATER EXTREMAMENTE CONDENSADO DA PROPOSTA DE ANALISE QUE VISA FUNDAMENTAR UMA ANALISE SOCIOLOGICA NUM "UNIVERSO EMPIRICO QUE REFORçA A LEGITIMIDADE DESSA IDéIA". ALGO COMO QUEM DIZ, IDéIAS PODEM SER PERTINENTES ISOLADAS DO MUNDO CONCRETO, MAS A SOCIOLOGIA PRECISA DESSE SUPORTE PARA GARANTIR SEU PROPOSITO DE INTELIGIBILIDADE ESPECIFICO.
O título dessa apresentação é bastante pretensioso se considerarmos o que se vai apresentar concretamente nesse texto: “A recepção das obras e a relação entre sociologia e literatura nos anos trinta: Graciliano Ramos e a sociologia implícita do mundo social”, é como gostaríamos de intitular a tese no seu desfecho final. De fato, visto o momento de produção de análises no qual se encontra esta pesquisa, seria mais condizente falar apenas em aspectos da relação entre sociologia e literatura a partir das análises do material recolhido no Arquivo Graciliano Ramos (AGR). Para ser ainda mais preciso com a proposta de trabalho aqui apresentada é preciso reconhecer que ela se desenvolve considerando o seguinte problema: a idéia de sociologia implícita trabalhada para analisar contexto e obra da produção romanesca de Graciliano Ramos se presta a uma série de mal entendidos. E essa exposição tem como objetivo expor as principais características e temas decorrentes das analises realizadas sobre o romancista alagoano e sua obra tendo como foco as impressões dessa noção deixada no arcabouço da tese que vem se realizando.
EM CONTRASTE COM O QUE SE PROMETE NO ABSTRACT, QUE FOI ESCRITO EM MOMENTO ANTERIOR A DEFESA DE PROJETO, EXISTE UM DESLOCAMENTO DO TEXTO PARA UMA REFLEXÃO DE CUNHO MAIS ABSTRATO, DA ORDEM DA EPISTEMOLOGIA, A MEU VER GERADA PELA LEITURA DE MEU PROJETO PELA BANCA. VEJAM, NÃO ACHO DE TODO INVALIDO O TIPO DE REFLEXÃO QUE ME PROPUS A FAZER NESSE EXERCICIO, MAS JULGO IMPORTANTE ATINAR QUE O DESLOCAMENTO DO FOCO DE REFLEXÃO SE DEU POR CONTA DE UMA POSTURA QUE TIVE QUE TOMAR DIANTE DE POSICIONAMENTOS OFICIAIS A RESPEITO DO MEU TRABLHO.
Apesar de adotarmos essa perspectiva epistemológica, de limpeza conceitual, não se trata de um exercício de reflexão acerca do aparato conceitual, mas de um esforço para dar tratamento reflexivo específico ao objeto de estudo: partimos do pressuposto que o ato de refletir o procedimento analítico adotado produz um entendimento mais adequado da relação entre o universo assertivo relativo aos conceitos utilizados e a realidade a qual se quer de dar conta.
AQUI ACONTECE ALGO ENGRAçADO. DANDO-ME CONTA DE QUE ESTOU FAZENDO UMA REFLEXÃO SOBRE A REFLEXÃO ANTES MESMO DE REFLETIR DE FATO SOBRE MEU OBJETO, TENTO MINIMIZAR OS EFEITOS DESSA POSTURA USANDO O ARTIFICIO QUE INRODUZ E LIGA A EPISTEMOLOGIA A SOCIOLOGIA, QUE é PROPOR PENSAR OS CONCEITOS COMO ELEMENTOS QUE, EM CONTATO COM A REALIDADE ESPECIFICA QUE TENTAM ABARCAR, TERMINAM NO SEU PROCEDER PARA DAR INTELIGIBILIDADE DAQUELE REAL CONCRETO, DIZENDO ALGO SOBRE AQUELE PROPRIO MUNDO, SOBRE COMO ELE FUNCIONA.
Seria preciso, porém, além e por conta desse tratamento específico, de ordem epistemológica, descrever o que o estudo se propõe a dizer sobre o universo social. O presente texto insiste: a sociologia implícita já descreve o mundo ao ser descrita ao tentar dar conta dele. A indicação que se desdobra da análise da dubiedade do uso desse conceito (o foco analítico podendo tratar da “leitura” – usando o ponto de vista da crítica como objeto - ou da “construção” da obra – usando o universo de elaboração do romance como objeto) atende ao anseio de mostrar aquilo que a análise sobre a sociologia implícita presente na obra de Graciliano Ramos opera ao descrever um “universo social construído” no e para o romance.
O QUE EXEMPLIFICA O QUE EU DISSE NO COMENTARIO ANTERIOR.
Dessa forma, para resumir, encaminhamos nosso propósito em dois tópicos: 1- o primeiro tratando das características e funções da idéia de sociologia implícita, mostrando basicamente em que contexto e tentando evitar quais problemas ele se forjou e -2 o segundo trazendo a análise de São Bernardo com a qual se traz um exemplo de alocação da sociologia implícita para pensar a obra de Graciliano Ramos mostrando que ela pode continuar dialogando com preocupações da sociologia do romance, da literatura como também com a critica literária.
E ESSA PARTE FICA PARA UMA OUTRA OPORTUNIDADE, PARA NÃO ALONGAR DEMAIS O POST.
Abraço a todos,
Jampa.
ps: escrevi de um teclado francês, por isso a ausência de acentuação em algumas palavras.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Só pra refletir ouvindo um som.

War foi uma das músicas gravadas por Sinéad O'Connor em seu álbum lançado em 2005, intitulado "Throw Down Your Arms". Acho o título do disco e a letra da música, bem sugestivos pra nós.

Until the philosophy which hold one race
Superior and another inferioris
finally and permanently discredited and abandoned
Everywhere is war, me say war.

That until there are no longer first classand second class
citizens af any nation
Until the color of a man's skinis
of no more significance than the color of his eyes
Me say war.

That until the basic human rights are equally
guaranteed to all, without regard to race
Dis a war.

That until that day
the dream of lasting peace, world citizenship
rule of international morality
will remain in but a fleeting illusion
to be pursued, but never attained
Now everywhere is war, war.

And until the ignoble and unhappy regimes
that hold our brothers in Angola, in Mozambique,
South Africa sub-human bondagehave
been toppled, utterly destroyed
Well, everywhere is war, me say war.

War in the east,
war in the westwar up north, war down south
war, war, rumours of war.

And until that day, the Efrican continent
will not know peace, we Africans will fight
we find it necessary and we know we shall win
as we are confident in the victory.

Of good over evil, good over evil, good over evil
Good over evil, good over evil, good ever evil.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Cefichianismo: meu monólogo ao pé do ouvido

Poderia dar gritos, espernear, chorar e explodir de raiva a cada vez que penso nas coisas que me incomodam nas maneiras de entender a sociologia no PPGS. O problema é que, como doutorando, ao mesmo tempo eu faço e não faço parte dessa instituição. Fazendo parte, não posso e não devo negar completamente como e o que se faz nela, nem a partir dela. Seria hipócrita e inconsistente aceitar pertencer a algo que não se acredita em absolutamente nada de sua natureza. A máxima que diz “nos formamos graças e apesar das instituições as quais estamos inseridos” apenas ganha em pertinência na medida em que se afirma o que se pode afirmar e se nega o que se pode negar. Só se pode rejeitar com legitimidade alguma coisa até certo ponto. E é lá onde nosso pertencimento ainda autoriza uma negação de ordem crítica desse próprio pertencimento. Se fizesse um tipo de negação total, fugindo às regras do jogo, eu poderia a justo título ser classificado como intelectual aculturado e sem lugar de ser, alguém apenas deslumbrado pelo “jeito francês de sociologar” e avesso ao modo e ao mundo de produção de idéias onde hoje estou inserido e tento começar uma carreira. Já não estaria mais aqui quem falou, como se diz.
O problema que se coloca para mim é, assim, o de saber em que medida as críticas que faço podem ser feitas. E isso em dois sentidos nas condições que me são dadas: 1- o de poder ter as condições de elaborar um discurso crítico embasado não apenas na minha experiência de doutorando, mas também num trabalho mais consistente de reflexão acerca do tipo de produção intelectual presente nesse ambiente específico da sociologia do CFCH (tipo de trabalho que critico até agora como participante, como observador empirica e socialmente implicado); 2- o de poder ser anulado pelo meu “projeto crítico” que, uma vez realizada tal reflexão (a postura analítica versaria sobre questão de legitimidade de procedimentos estabelecidos, sobre maneiras de ver, encarar e fazer a sociologia e a pesquisa), expor-me-ia de maneira suicida no meu próprio meio. Vejo-me já funcionando como doença auto-degenerativa, um corpo que ao lutar contra suas próprias defesas (porque já não as reconhece como tais) e termina por aniquilar-se...
É assim que o problema sociológico se coloca também como problema social para mim. Os meus colegas de doutorado, com quem partilho idéias, momentos de amizade – na busca legítima pela realização de um trabalho de tese bem sucedido (e isso implica a aceitação da mesma na comunidade acadêmica a qual participamos, seja no que diz respeito aos procedimentos de pesquisa, seja no que tange à forma de apresentação do trabalho) –, esses colegas precisam aturar minha falta de paciência crônica com o modelo de produção e trabalho posto em nosso departamento? Teria eu como não ser crítico deles ao ser crítico de um modelo do qual fazemos parte? O ethos cordial, estaria ele aqui mordendo meus calcanhares? Ainda teria para mim o refúgio da auto-crítica, afinal também estou no bojo do que critico.
Já cansei de espernear. E não quero que meu grito saia pela culatra. A sociologia é para mim também, além de um meio de adentrar (descrevendo, explicando, compreendendo) o mundo social, um meio de sobrevivência, um trabalho, uma maneira de me inserir socialmente no mundo em que vivo. De maneira que ao meu propósito crítico deve-se ajuntar um procedimento de ordem política, duma política de sobrevivência. A “sociologia cefichiana” (pouco conhecida de fato) se constrói a meu ver de maneira autista (alheia à realidade concreta), em contato com teorias amorfas e em função delas. Dessa maneira, em nome de uma superioridade (latente) e/ou de uma anterioridade da teoria em relação à empiria (defendida[s] como verdade final e fundamental da epistemologia científica, usada[s] às vezes contra a própria ciência), esvaziam-se todos os projetos empíricos de sua importância descritiva(mesmo os estudos empíricos), e mesmo aqueles ainda em fase embrionária (quem nunca ouviu um “está faltando um marco teórico”?).
O marco teórico fica sendo o responsável pelo assassinato da pesquisa porque estipula, a priori, o mote explicativo dos fenômenos que, dessa forma, ganham inteligibilidade antes mesmo de serem estudado pelos procedimentos de pesquisa. A interpretação por estar contida no marco teórico vai impor ao pesquisar que apenas verifique ou teste se a genialidade do autor “clássico”, do “sociólogo consagrado” (normalmente porque publicou nos grandes centros de produção intelectual na Europa ou nos EUA) se encontra nos “casos” que ele se propôs estudar. Mata-se assim o potencial heuristico e criativo contido na confrontação de um problema sociológico confrontado a objetos empiricos novos. O pior acontecendo quando o objeto empírico é completamente deformado pelas lentes deturpadoras das teorias importadas que, ao serem usadas com o propósito (sempre implícito) de desmerecer o “empiricismo” e a máxima do “deixem os fatos falarem por si mesmos”, negam todo e qualquer tipo de autonomia à realidade empírica que, dessa forma, só se apresenta como elemento de manipulação mental dos pensadores.
Mas eu estou mais uma vez “chovendo no molhado” ao repetir tudo isso. Pergunto-me: mudaria essa redundância retórica se colocasse aqui análises concretas de dissertações, teses e revistas do PPGS, quantificando e descrevendo concretamente tudo isso que digo aqui de maneira vaga sem dar nome aos bois? Ou morreria eu de morte súbita?E quem de vocês duvida que essa "interpretação" que faço, oriunda apenas da experiência como doudorando, traz elementos críticos suficientes para que ao dar nomes e números a essas suposições, cometesse eu aí ato de suicídio estúpido?

domingo, 27 de abril de 2008

Dialogos Consoantes: acatando a sugestão de Luiz

Luiz deu a interessante sugestão de debatermos aqui mesmo no Dialogos Consoantes as diretrizes de nosso blogue. O que queremos que ele seja? Quais seus objetivos? Eu acho a idéia brilhante. Por isso deixo aqui algo daquilo que eu havia imaginado a respeito do pontapé incial para esse blogue.

1- Um espaço para debater assuntos de interesse acadêmico de maneira livre, mas responsavel, ou seja, sem muito "achismo". E quando o terreno da opinião (doxa) for a ultima solução, que se proceda com devida “explicitação” do opinar não baseado em fatos ou fontes, e, dessa forma, que se digam e considerem legitimas as especulações derivadas de nossos julgamentos. Penso que dessa maneira o espaço de debates pode ganhar, porque se opõe, em termos praticos de procedimento, aos aguniados textos jornalisticos produzidos nos jornais(não cabe aqui discutir nesse momento os porquês dessa triste realidade de nossa grande imprensa!).
2- Pensei que cada um dos integrantes poderia também falar sobre as suas respectivas experiências na universidade, no doutorado (ou mestrado), dizendo o que esperava e espera delas. E dessa forma dar dimensão “concreta” aos projetos, mesmo que discursivamente. Quais decepções e o que resta de expectativas e sonhos para nossos trabalhos e carreiras? O que gostariamos de dizer, fazer, contribuir, mudar, manter, descortinar etc. com nossos trabalhos?
3- Acho que um debate importante que deveriamos fazer é o de se perguntar como cada um dos participantes pensa a articulação do trabalho acadêmico com o que poderiamos chamar de possiveis formas de engajamento politico, no sentido de transigir de um espaço de autonomia da produção de conhecimento a respeito do mundo social (afinal esse seria o trabalho especifico do sociologo) a um negociar, usar, e instrumentalizar os conhecimentos adquiridos e produzidos no seio das disputas sociais nas quais estamos também inseridos. Esse debate poderia apontar algumas sugestões concretas para intervir em debates sociais existentes (que para nos deveriam ser enriquecidos a partir de uma perspectiva mais sociologica).

Acho que esses três pontos são os que julgo de maior importância. Quais os de vocês? Eu acato também uma outra sugestão de Lula, que é que se comece a divulgar o blogue mesmo a partir desse debate inicial sobre sua forma e conteudo. Para que outras pessoas possam também contribuir com esse processo.

Abraço a todos,

Jampa.

Ps: alguns acentos não existem no meu teclado francês. Então imagine-os nos seus devidos lugares. Por exemplo, leia “que para nois deveriam” onde tem “nos”.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Pensamento preto no branco; ou: A crítica como adesão.

Quando entrei para a faculdade eu me tornei um weberiano; anos mais tarde um bourdiesiano. Mas apesar desses epítetos (talvez fosse melhor chamar-lhes títulos honoríficos, porque eles realmente dão dignidade ao seu portador), sempre me preocupou o fato de que a crítica talvez não nascesse de mim, de que não fosse um raciocínio válido tirado das meditações de um sociólogo conhecido. E acabava me indagando se muitas vezes minhas adesões não eram algo similar às adesões políticas, que são sempre constituídas por meio de formulas do tipo ou tudo ou nada: esquerda/direita, conservador/progressista, nacionalista/entreguista etc.

Para mim, a dúvida ainda está. Sempre me indago como é possível desenvolver algo que valha a pena gastar papel e tinta sem me escorar nas facilidades da adesão incondicional a algum autor ou escola de pensamento. Bourdieu uma vez disse que a sociologia é feita ao se pensar contra e com um autor. A fórmula para mim é perfeita. Resume bem o que se deve fazer. No entanto, o problema está em colocar essa fórmula para funcionar, fazendo críticas ou criando pensamentos originais que sejam dignos de serem escritos e comunicados aos outros; algo que não seja a mera adesão a um autor e escola de pensamento. Que não seja uma crítica por adesão.

Política e discurso político

O espaço social é constituído pela diferenciação social. E mesmo o espaço da democracia moderna, ao oferecer igualdades de natureza formal, é constituído pela diferenciação. Pois o discurso político é fundado no princípio de autoridade; princípio que supõe a capacidade de se exercer uma atividade. Algumas vezes essa autoridade precisa ser sancionada por uma instituição, como o conselho de medica ou engenharia. Não é o caso da (re)produção de discursos políticos. Mas a falta de controle institucional só permite que o sistemas de controle sobre a emissão de discursos políticos seja mais intenso porque sub-reptício. A democracia formal, ao abrir espaço à opinião e manifestação popular, não assegura que todos os indivíduos se sintam confortáveis para opinar e debater questões políticas. Pois a prática do discurso político necessita do domínio de ferramentas que lhe sejam compatíveis: instrução, conhecimento fatos do cotidiano, domínio de esquemas classificatórios dos atos políticos e assim por diante. Não se diz que um homem de pouca instrução não possa se envolver em na arena política por meio de discussões de cunho político. Todavia os indivíduos despossuídos de ferramentas (capital cultural e escolar) possivelmente não intervirão de modo semelhante àqueles que estão mais “habilitados” ao manuseio das questões políticas. Aos mais desfavorecidos de instrução e cultura muitas vezes só resta a revolta moralista.

Se a falta de ferramentas impede parcialmente o indivíduo de se inserir no espaço de debates políticos, a posse de tais ferramentas assegura apenas uma inserção socialmente legítima, não dizendo nada sobre a capacidade de ação crítica. Os indivíduos que se arriscam a debater assuntos políticos correm o risco de se verem hipnotizados pelos efeitos auto-indulgentes da aquisição de capitais passíveis de serem transmutados em ação e discurso político.A posse de capitais sem dúvida possibilita que o indivíduo possa agir legitimamente do ponto de vista social. Mas a simples posse de capitais nunca gerará a possibilidade de crítica e discussão racional. E a chance de se produzir meros improvisos sobre os mesmos temas se torna um perigo constante.

Os intelectuais geralmente são muito solícitos quando são convidados a participar em debates políticos. Mas se os intelectuais têm uma função importante na democracia brasileira, em minha opinião, seria a de depurar os espaços do debate político. Desse modo, se colocaria a seguinte pergunta a todos os indivíduos preocupados com questões políticas e intelectuais: como podem transmutar seus capitais (escolares e culturais) em capital político, ou seja, como podem agir política mas também racionalmente sobre as discussões políticas?

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Em poucas palavras, quem somos...

Grupo de amigos doutorandos cansados do isolamento gerado pelo trabalho acadêmico. Pessoas de diferentes trajetórias que têm em comum a vontade de discutir, pensar, descortinar o mundo que nos cerca. Mas não só isso. Atinados com a crescente importância da blogosfera para apoio e sustentação de um espaço público de debates, a intenção é de usar, quando possível, as disposições intelectuais adquiridas através do trabalho acadêmico (veio crítico, postura contra-intuitiva, contextualização de propósitos generalizantes) para balizar nossos posicionamentos políticos em busca de um militantismo inteligente. De maneira livre e descontraída, mas de forma séria e conseqüente, toda reflexão apoiada em fontes será exaltada. E as que não forem serão julgadas pela pertinência própria de seus propósitos. Assim, literatura, dança, música, política, sexualidade, amor, engajamento, papel e lugar das ciências sociais, discriminação, violência, são alguns assuntos a serem abordados por aqui.