quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Misoginia de blogue: de pessoa e/ou instituição

Adoro uma polêmica blogueira. Vamos a mais uma, e das boas.

Tentando fugir um pouco do meu último texto, que mencionou minha preocupação com o tipo de leitura que poderia ser feita do Pedagogia da punheta, eu concebo uma pequena reflexão sobre o machismo presente numa enquete sobre as musas das Olimpíadas de Pequim. A polêmica se encontra principalmente nos comentários e vai ser justamente a partir deles que irei discorrer algo a respeito.

Primeiro gostaria de me solidarizar com as opiniões da “ala feminista”. E aqui não falo de feminismo como o engraçadinho Ariston(comentários) que assim se referiu às mulheres que repudiaram com razão o texto e as fotos escolhidas para ironizar o propósito de seus argumentos. Para mim, heterossexual do sexo masculino, também é triste perceber que a misoginia (que não é a meu ver o pior de nossos males machistas, acho que a homofobia é bem mais horrenda e aceita) possa passar tão facilmente como algo natural e comum e, para fins hipocritamente cômicos, se passar por mera “brincadeira de mau gosto”.

Porém, no seu ridículo, o tal do Ariston coloca algo interessante e que deve ser pensado: “As PESSOAS de um modo geral (intelectualizadas ou não) têm seus gostos.” Uma tautologia barata, sem dúvida, mas que tem uma lógica social a ser pensada no que se diz sobre o machismo e a misoginia. Afinal de contas, quem tem direito de ser machista numa sociedade machista?

O problema levantado por Cynthia Hamilin não é propriamente da misoginia pura e simples, mas da posição institucional da mesma, o que é bem pior. Vejamos o que ela questiona: “É lamentável que um blog escrito por professores universitários reproduza este tipo de misoginia. As mulheres se saíram bem nas olimpíadas, “mas isso não importa” (que frase infeliz!): o que importa é que elas são “gostosas”. Já pararam para pensar que talvez essas mulheres prefiram ser reconhecidas como atletas que são?” A questão colocada por Hamilin é bem mais a de saber quem fala o que e o que está representado naquela fala, do que uma mera crítica a idiotice de um machista qualquer.

É claro que Pierre Lucena, cidadão sorridente e bem vestido, tem todo o direito de expressar suas opiniões sobre as qualidades que ele mais aprecia numa mulher (e não é preciso ir muito longe para entender que tipo de “visão de mulher” ele tem). Mas o problema é que Pierre Lucena fala enquanto professor da UFPE, que, se fosse instituição de respeito, pediria satisfação a respeito de opiniões expressadas publicamente tão desprovidas de valor\rigor\seriedade acadêmica, fato que coloca em jogo e em questão a própria instituição.

Volto à tautologia “as pessoas de um modo geral têm seus gostos” e ao importante adendo “intelectualizadas ou não”. Eu concordo plenamente com o argumento de Cynthia Hamilin ao mesmo tempo que reflito sobre o significado que a ruptura que ele pressupõe revela: o machismo estrutural que se desvela de maneira violenta nas maneiras de apreciar (a palavra mais apropriada seria depreciar) as mulheres exposta na enquête revela ao mesmo tempo a fragilidade da assimilação dos valores da mulher como ser humano pleno (pautados no feminismo ou além dele) no tecido social e o pouco respaldo que o debate contra a misoginia alcançou na estrutura de poder das relações universitárias. Nesse sentido, quero crer, o caso não é de feminismo pura e simplesmente, mas algo mais sério, no mínimo de denúncia de falta de decorro profissional onde alguém, em certo sentido, usando do status atribuído por uma instituição (Professor da UFPE), diz coisas não sensatas (adoro eufemismos) a respeito de seu modo de depreciar mulheres.

O machismo por parte de alguns docentes da UFPE. Indignada!

Ontem recebi um e-mail coletivo da Profa. Cynthia Hamlin. O teor da mensagem abordava o conteúdo de um blog formado por professores da UFPE, infelizmente.

Os digníssimos docentes tiveram a coragem de publicar um post sobre, "As musas das Olimpíadas". As proposições e comentários são os mais esdrúxulos possíveis e mostram como eles reproduzem práticas odiosamente machistas. O pior é que acham que estão absolutamente corretos.

Vou colocar o endereço desse blog que possui a pretensão de falar sobre política. Piada, não é?

http://acertodecontas.blog.br/esportes/musas-da-olimpada-a-minha-favorita/

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sem Título

De algum modo, tudo que pretende começar de forma despretensiosa parece que caí na esparrela da pretensão. Ou a gente é muito besta e não percebe que nossas próprias idéias pseudo-humildes são na verdade tentativas de chamar a atenção para algum fato, acontecimento, ou realmente fomos tomados, constituídos socialmente, ao longo de nossa caminhada acadêmica, familiar, etc., para uma visão de mundo e do mundo que nos indica uma direção de oposição a tudo o que se compreende como sendo arrogante. Sei que ultimamente estou tendendo para uma perspectiva que segue por um único caminho, mas de uns tempos pra cá (vejam, não sei se esse espaço é destinado pra desabafos, mas de todo modo, sinto-me à vontade para fazê-lo).
Quando eu deixo de intitular algo isso significa que já estou intitulando, isso é óbvio. Contudo, esse meu início foi só um pretexto para falar o que realmente quero. Lembro-me uma vez que numa aula de alguma disciplina do doutorado eu falei (coisa rara!) sobre algo que tinha uma acepção semelhante, na forma de pensar, do que expus acima. Até hoje, e pela reação de alguns colegas, acho que falei alguma coisa que possuía certa coerência. Mas a questão que perpassa minhas idéias é se concretamente nossos atos são de alguma forma, coerentes.
Por mais racionais que tentemos ser, tudo parece que se mistura. Tomemos a mim como exemplo. Apesar de tentar agir de forma racional, e acho que tenho posto isso em prática em termos acadêmicos, na minha vida afetiva, as coisas que antes me pareciam tão coesas e definidas, foram sendo mitigadas, inicialmente, de forma repentina, e mais tarde de maneira lenta e gradual. Isso me fez perceber que um ser social não pode ser apartado de suas relações, como um todo.
Ao retomar meu projeto de tese, sobretudo, meu plano de tese, percebi que continuo muito presa ao que tanto queria me desvencilhar que é a análise do pensamento de Lukács. Não acho que esse seja um exercício menor, mas a sensação que tenho é a de que ainda não entrei na pesquisa que quero fazer. Estou fichando três capítulos da sua obra final, “A Ontologia do Ser Social”. É interessante que a cada nova leitura se torna perceptível um amadurecimento de quem lê. Fico na esperança de que com o término ou interrupção desse meu fichamento eu possa vislumbrar algo mais prático, em todas as instâncias da minha vida, se é assim que se pode nomear.
Todavia, acredito que Lukács[i] está correto quando afirma que “uma posição crítica só é fecunda quando é capaz de reconhecer as contradições da posição criticada, seu eventual aspecto progressista” (1969:169)





[i] HOLTZ, H., H. KOFLER, L. e ABENDROTH, W. (1969). Conversando com Lukács.
Tradução de Giseh Vianna Konder. Rio de Janeiro, Paz e Terra.