domingo, 27 de abril de 2008

Dialogos Consoantes: acatando a sugestão de Luiz

Luiz deu a interessante sugestão de debatermos aqui mesmo no Dialogos Consoantes as diretrizes de nosso blogue. O que queremos que ele seja? Quais seus objetivos? Eu acho a idéia brilhante. Por isso deixo aqui algo daquilo que eu havia imaginado a respeito do pontapé incial para esse blogue.

1- Um espaço para debater assuntos de interesse acadêmico de maneira livre, mas responsavel, ou seja, sem muito "achismo". E quando o terreno da opinião (doxa) for a ultima solução, que se proceda com devida “explicitação” do opinar não baseado em fatos ou fontes, e, dessa forma, que se digam e considerem legitimas as especulações derivadas de nossos julgamentos. Penso que dessa maneira o espaço de debates pode ganhar, porque se opõe, em termos praticos de procedimento, aos aguniados textos jornalisticos produzidos nos jornais(não cabe aqui discutir nesse momento os porquês dessa triste realidade de nossa grande imprensa!).
2- Pensei que cada um dos integrantes poderia também falar sobre as suas respectivas experiências na universidade, no doutorado (ou mestrado), dizendo o que esperava e espera delas. E dessa forma dar dimensão “concreta” aos projetos, mesmo que discursivamente. Quais decepções e o que resta de expectativas e sonhos para nossos trabalhos e carreiras? O que gostariamos de dizer, fazer, contribuir, mudar, manter, descortinar etc. com nossos trabalhos?
3- Acho que um debate importante que deveriamos fazer é o de se perguntar como cada um dos participantes pensa a articulação do trabalho acadêmico com o que poderiamos chamar de possiveis formas de engajamento politico, no sentido de transigir de um espaço de autonomia da produção de conhecimento a respeito do mundo social (afinal esse seria o trabalho especifico do sociologo) a um negociar, usar, e instrumentalizar os conhecimentos adquiridos e produzidos no seio das disputas sociais nas quais estamos também inseridos. Esse debate poderia apontar algumas sugestões concretas para intervir em debates sociais existentes (que para nos deveriam ser enriquecidos a partir de uma perspectiva mais sociologica).

Acho que esses três pontos são os que julgo de maior importância. Quais os de vocês? Eu acato também uma outra sugestão de Lula, que é que se comece a divulgar o blogue mesmo a partir desse debate inicial sobre sua forma e conteudo. Para que outras pessoas possam também contribuir com esse processo.

Abraço a todos,

Jampa.

Ps: alguns acentos não existem no meu teclado francês. Então imagine-os nos seus devidos lugares. Por exemplo, leia “que para nois deveriam” onde tem “nos”.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Pensamento preto no branco; ou: A crítica como adesão.

Quando entrei para a faculdade eu me tornei um weberiano; anos mais tarde um bourdiesiano. Mas apesar desses epítetos (talvez fosse melhor chamar-lhes títulos honoríficos, porque eles realmente dão dignidade ao seu portador), sempre me preocupou o fato de que a crítica talvez não nascesse de mim, de que não fosse um raciocínio válido tirado das meditações de um sociólogo conhecido. E acabava me indagando se muitas vezes minhas adesões não eram algo similar às adesões políticas, que são sempre constituídas por meio de formulas do tipo ou tudo ou nada: esquerda/direita, conservador/progressista, nacionalista/entreguista etc.

Para mim, a dúvida ainda está. Sempre me indago como é possível desenvolver algo que valha a pena gastar papel e tinta sem me escorar nas facilidades da adesão incondicional a algum autor ou escola de pensamento. Bourdieu uma vez disse que a sociologia é feita ao se pensar contra e com um autor. A fórmula para mim é perfeita. Resume bem o que se deve fazer. No entanto, o problema está em colocar essa fórmula para funcionar, fazendo críticas ou criando pensamentos originais que sejam dignos de serem escritos e comunicados aos outros; algo que não seja a mera adesão a um autor e escola de pensamento. Que não seja uma crítica por adesão.

Política e discurso político

O espaço social é constituído pela diferenciação social. E mesmo o espaço da democracia moderna, ao oferecer igualdades de natureza formal, é constituído pela diferenciação. Pois o discurso político é fundado no princípio de autoridade; princípio que supõe a capacidade de se exercer uma atividade. Algumas vezes essa autoridade precisa ser sancionada por uma instituição, como o conselho de medica ou engenharia. Não é o caso da (re)produção de discursos políticos. Mas a falta de controle institucional só permite que o sistemas de controle sobre a emissão de discursos políticos seja mais intenso porque sub-reptício. A democracia formal, ao abrir espaço à opinião e manifestação popular, não assegura que todos os indivíduos se sintam confortáveis para opinar e debater questões políticas. Pois a prática do discurso político necessita do domínio de ferramentas que lhe sejam compatíveis: instrução, conhecimento fatos do cotidiano, domínio de esquemas classificatórios dos atos políticos e assim por diante. Não se diz que um homem de pouca instrução não possa se envolver em na arena política por meio de discussões de cunho político. Todavia os indivíduos despossuídos de ferramentas (capital cultural e escolar) possivelmente não intervirão de modo semelhante àqueles que estão mais “habilitados” ao manuseio das questões políticas. Aos mais desfavorecidos de instrução e cultura muitas vezes só resta a revolta moralista.

Se a falta de ferramentas impede parcialmente o indivíduo de se inserir no espaço de debates políticos, a posse de tais ferramentas assegura apenas uma inserção socialmente legítima, não dizendo nada sobre a capacidade de ação crítica. Os indivíduos que se arriscam a debater assuntos políticos correm o risco de se verem hipnotizados pelos efeitos auto-indulgentes da aquisição de capitais passíveis de serem transmutados em ação e discurso político.A posse de capitais sem dúvida possibilita que o indivíduo possa agir legitimamente do ponto de vista social. Mas a simples posse de capitais nunca gerará a possibilidade de crítica e discussão racional. E a chance de se produzir meros improvisos sobre os mesmos temas se torna um perigo constante.

Os intelectuais geralmente são muito solícitos quando são convidados a participar em debates políticos. Mas se os intelectuais têm uma função importante na democracia brasileira, em minha opinião, seria a de depurar os espaços do debate político. Desse modo, se colocaria a seguinte pergunta a todos os indivíduos preocupados com questões políticas e intelectuais: como podem transmutar seus capitais (escolares e culturais) em capital político, ou seja, como podem agir política mas também racionalmente sobre as discussões políticas?

Teste

Em poucas palavras, quem somos...

Grupo de amigos doutorandos cansados do isolamento gerado pelo trabalho acadêmico. Pessoas de diferentes trajetórias que têm em comum a vontade de discutir, pensar, descortinar o mundo que nos cerca. Mas não só isso. Atinados com a crescente importância da blogosfera para apoio e sustentação de um espaço público de debates, a intenção é de usar, quando possível, as disposições intelectuais adquiridas através do trabalho acadêmico (veio crítico, postura contra-intuitiva, contextualização de propósitos generalizantes) para balizar nossos posicionamentos políticos em busca de um militantismo inteligente. De maneira livre e descontraída, mas de forma séria e conseqüente, toda reflexão apoiada em fontes será exaltada. E as que não forem serão julgadas pela pertinência própria de seus propósitos. Assim, literatura, dança, música, política, sexualidade, amor, engajamento, papel e lugar das ciências sociais, discriminação, violência, são alguns assuntos a serem abordados por aqui.