quinta-feira, 15 de maio de 2008

Minha tese e sua relação com o mundo (cefichiano)

Oi Pessoal,

novamente eu por aqui. Nesse post trago uma reflexão acerca de meu trabalho de tese buscando enquadrà-lo no debate sobre as formas de entender o trabalho sociologico no CFCH. Divido com vocês parte do texto que escrevi para apresentar no BRASA IX. Como ele foi escrito depois de minha defesa de projeto, nele se encontra uma série de preocupações oriundas das leituras criticas que recebi dos professores que avaliaram o projeto. São essas "interferências" ocasionadas pela recepção que gostaria de pensar porque são elas que podemos chamar, para bem e para mal, de "dedos do PPGS" em nossos trabalhos. Vou colocar em caixa alta meus comentarios sobre a interlocução implicita ao texto. Então vejamos:

Abstract ( Resumo)

A sociologia da literatura com a qual trabalhamos busca associar no nível de sua elaboração uma sociologia dos intelectuais com uma sociologia das obras (levando em conta a produção e recepção dessas obras). Nesse sentido o trabalho literário e a vida de Graciliano Ramos são tomados a partir de um vinculo de condicionamentos oriundos das lógicas sociais que, naquele momento histórico, tornam possível a construção de uma posição social impar para o romance social equivalente ao lugar atribuível as ciências sociais (em termos, sobretudo, de sua função socio-analítica, de fonte de conhecimento sobre o mundo social). A idéia de sociologia implícita, central em nossa argumentação e análise sociológica da obra literária de Graciliano Ramos, aparece assim fundada e fundamentada num universo empírico que reforça a legitimidade dessa idéia, porque os intelectuais da época realmente liam o romance social como fonte de informação sociológica a respeito do Brasil de então.
ESSE ABSTRACT FOI O MESMO QUE FIZ PARA APRESENTAR OUTRO TRABALHO, NO CONGRESSO DA SBS. PEçO QUE ATINEM PARA O CARATER EXTREMAMENTE CONDENSADO DA PROPOSTA DE ANALISE QUE VISA FUNDAMENTAR UMA ANALISE SOCIOLOGICA NUM "UNIVERSO EMPIRICO QUE REFORçA A LEGITIMIDADE DESSA IDéIA". ALGO COMO QUEM DIZ, IDéIAS PODEM SER PERTINENTES ISOLADAS DO MUNDO CONCRETO, MAS A SOCIOLOGIA PRECISA DESSE SUPORTE PARA GARANTIR SEU PROPOSITO DE INTELIGIBILIDADE ESPECIFICO.
O título dessa apresentação é bastante pretensioso se considerarmos o que se vai apresentar concretamente nesse texto: “A recepção das obras e a relação entre sociologia e literatura nos anos trinta: Graciliano Ramos e a sociologia implícita do mundo social”, é como gostaríamos de intitular a tese no seu desfecho final. De fato, visto o momento de produção de análises no qual se encontra esta pesquisa, seria mais condizente falar apenas em aspectos da relação entre sociologia e literatura a partir das análises do material recolhido no Arquivo Graciliano Ramos (AGR). Para ser ainda mais preciso com a proposta de trabalho aqui apresentada é preciso reconhecer que ela se desenvolve considerando o seguinte problema: a idéia de sociologia implícita trabalhada para analisar contexto e obra da produção romanesca de Graciliano Ramos se presta a uma série de mal entendidos. E essa exposição tem como objetivo expor as principais características e temas decorrentes das analises realizadas sobre o romancista alagoano e sua obra tendo como foco as impressões dessa noção deixada no arcabouço da tese que vem se realizando.
EM CONTRASTE COM O QUE SE PROMETE NO ABSTRACT, QUE FOI ESCRITO EM MOMENTO ANTERIOR A DEFESA DE PROJETO, EXISTE UM DESLOCAMENTO DO TEXTO PARA UMA REFLEXÃO DE CUNHO MAIS ABSTRATO, DA ORDEM DA EPISTEMOLOGIA, A MEU VER GERADA PELA LEITURA DE MEU PROJETO PELA BANCA. VEJAM, NÃO ACHO DE TODO INVALIDO O TIPO DE REFLEXÃO QUE ME PROPUS A FAZER NESSE EXERCICIO, MAS JULGO IMPORTANTE ATINAR QUE O DESLOCAMENTO DO FOCO DE REFLEXÃO SE DEU POR CONTA DE UMA POSTURA QUE TIVE QUE TOMAR DIANTE DE POSICIONAMENTOS OFICIAIS A RESPEITO DO MEU TRABLHO.
Apesar de adotarmos essa perspectiva epistemológica, de limpeza conceitual, não se trata de um exercício de reflexão acerca do aparato conceitual, mas de um esforço para dar tratamento reflexivo específico ao objeto de estudo: partimos do pressuposto que o ato de refletir o procedimento analítico adotado produz um entendimento mais adequado da relação entre o universo assertivo relativo aos conceitos utilizados e a realidade a qual se quer de dar conta.
AQUI ACONTECE ALGO ENGRAçADO. DANDO-ME CONTA DE QUE ESTOU FAZENDO UMA REFLEXÃO SOBRE A REFLEXÃO ANTES MESMO DE REFLETIR DE FATO SOBRE MEU OBJETO, TENTO MINIMIZAR OS EFEITOS DESSA POSTURA USANDO O ARTIFICIO QUE INRODUZ E LIGA A EPISTEMOLOGIA A SOCIOLOGIA, QUE é PROPOR PENSAR OS CONCEITOS COMO ELEMENTOS QUE, EM CONTATO COM A REALIDADE ESPECIFICA QUE TENTAM ABARCAR, TERMINAM NO SEU PROCEDER PARA DAR INTELIGIBILIDADE DAQUELE REAL CONCRETO, DIZENDO ALGO SOBRE AQUELE PROPRIO MUNDO, SOBRE COMO ELE FUNCIONA.
Seria preciso, porém, além e por conta desse tratamento específico, de ordem epistemológica, descrever o que o estudo se propõe a dizer sobre o universo social. O presente texto insiste: a sociologia implícita já descreve o mundo ao ser descrita ao tentar dar conta dele. A indicação que se desdobra da análise da dubiedade do uso desse conceito (o foco analítico podendo tratar da “leitura” – usando o ponto de vista da crítica como objeto - ou da “construção” da obra – usando o universo de elaboração do romance como objeto) atende ao anseio de mostrar aquilo que a análise sobre a sociologia implícita presente na obra de Graciliano Ramos opera ao descrever um “universo social construído” no e para o romance.
O QUE EXEMPLIFICA O QUE EU DISSE NO COMENTARIO ANTERIOR.
Dessa forma, para resumir, encaminhamos nosso propósito em dois tópicos: 1- o primeiro tratando das características e funções da idéia de sociologia implícita, mostrando basicamente em que contexto e tentando evitar quais problemas ele se forjou e -2 o segundo trazendo a análise de São Bernardo com a qual se traz um exemplo de alocação da sociologia implícita para pensar a obra de Graciliano Ramos mostrando que ela pode continuar dialogando com preocupações da sociologia do romance, da literatura como também com a critica literária.
E ESSA PARTE FICA PARA UMA OUTRA OPORTUNIDADE, PARA NÃO ALONGAR DEMAIS O POST.
Abraço a todos,
Jampa.
ps: escrevi de um teclado francês, por isso a ausência de acentuação em algumas palavras.

4 comentários:

Anônimo disse...

É inevitável fugir da percepção dos nossos professores do CFCH, mas mesmo que você questione essa perspectiva,João, acho que ela ganha uma importância grande no desenvolvimento do seu trabalho e do trabalho dos outros discentes do PPGS. Você, por ter aprendido a analisar o mundo social por outra ótica, a francesa, pode ponderar e perceber melhor que nós o que se passa no CFCH, se bem, que a coisa se torna também questionável na medida em que, os nossos profesores estudaram fora (França, Inglaterra, sobretudo)... Será que existe um ethos cefichiano? Bem, é melhor deixar isso de lado... Mas, o que acho fundamental nisso tudo é a possibilidade de reflexão que essas posturas diferentes geram. Acredito que seu trabalho poderá ganhar uma robustez maior, já que estará voltado pra esses outros aspectos que terminam por exigir do investigador uma reflexão mais acurada do seu próprio trabalho de pesquisa. Isso não significa que eu duvide da sua capacidade analítica,mas acho que esse tipo de percepção gera uma reflexão da própria reflexão e a viabilidade de questionamento do próprio questionamento que lhe é feito.
Abraços

Anônimo disse...

O que me deixa mais feliz nesse debate são os pontos-cegos, sabe Glaucia, não os pontos esclarecidos, vistos e evidentes. Como você, eu ja pensei nisso, como falar de "ethos cefichiano" se alguns de nossos professores estudaram fora, em diferentes centros de produção acadêmica? Mas apesar de não saber se esse tal ethos existe ou não (em reflexão especulativa) acho que existe algo na produção (na maneira de lidar com a sociologia) que obedece sim logicas internas ao PPGS, logicas que estabelecem, a partir de uma hierarquia de quem são os professores sérios e competentes(aqui sim essa coisa de estudar fora tem seu peso), por exemplo, quais as disciplinas mais importantes etc. e de que maneira devemos encarar a sociologia. Isso leva em conta a diversidade de opiniões, de visões, de experiências acadêmicas riquissimas que temos no CFCH e no PPGS. Mas opera, por via da preocupação com o modus operandi desse mundo, que guarda uma certa autonomia, opera uma analise que permite atualizar as maneiras de lidar com a sociologia em função das condições propriamente e imediatamente postas para os intelectuais em questão (e pros seus discipulos e alunos, como nos). E nisso que vejo uma auto-reflexão critica. Se existe ethos eu não sei, mas sei que sociologia é capaz de recuperar e descrever certas logicas regulares SEMPRE existentes no funcionamento de um grupo ou instituição. Quais serão as logicas do CFCH? Seria ousado demais se perguntar?
Beijos Glaucia. E vamos continuar esse dialogo. A entrevista, rola?

Anônimo disse...

João, depois eu coloco algo sobre isso, certo?
Sim, e quanto à entrevista rola amanhã(que medo!)... hihihi.
Beijos

Anônimo disse...

Sim, outra coisa que seria importante nesse post que não coloquei. Concretamente, para se entender as mudanças de comportamento que fiz, seria preciso tem em mente as opiniões dos professores. Das anotações que fiz sobre o que me disseram três opiniões negativas sobre meu trabalho importaram nessa mudança (inclinação): uma que me aconselhava a não pesquisar no Arquivo, uma que dizia que eu não tinha objeto de estudo, e a que dizia que eu tinha dois objetos de estudo. Todas (as opiniões) especulavam de maneira diferente sobre aspectos formais e teoricos e corrigiam o formato inacabado do projeto (que a meu ver tem por definição ser algo inacabado, mas...). Apesar de concordar com meu orientador e ver nas criticas uma incompreensão da dimensão epistemologicamente fundada desse aspecto inacabado do meu projeto, senti-me obrigado a dar respostas as angustias contidas naquelas leituras. E disso decorre as modificações na linha de preocupação do meu trabalho que tentei explicitar nesse meu post.
Abraços a todos,
Jampa