Um Velho
(Konstantinos Kaváfis)
No fundo do café tão barulhento
curvado sobre a mesa pousa um velho
com um jornal em frente e sem companhia.
E na desgraça da velhice vergonhosa
pensa quão pouco desfrutou dos anos
que tinha força, e fala e beleza
Sabe que envelheceu muito: o vê e sempre o sente.
Embora o tempo que era jovem lhe parece
como ontem. Que distância pequena
E pensa, a razão como se enganava
e como a confiança sempre o louco
a mentirosa que dizia “Deixa, tens tempo ainda”.
Lembra os desejos que abnegava e o quanto
prazer sacrificava. A sua boba cuca
toda perdida oportunamente caçoa.
...Mas de pensar e de lembrar-se tanto
o velho ficou tonto. E adormeceu
na mesa do café se segurando.
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2 comentários:
Do período da velhice não me lembro bem. Não da minha, e pouco da dos outros. A velhice, marca segura do perecível em nós, traz o medo da proximidade da morte. Obviedade das mais banais. Dormir no café, pensando na força que o lapso de tempo esgotou. Segurar a cabeça que vê o corpo gasto, segurar o corpo que não aguenta saber-se e por isso impele o espírito a voltar ao passado. Ah, o que poderia ter sido...? O que poderia ter sido se soubesse que seria isso quando velho? Ah se soubesse disso ainda joven...! É uma visão triste, mas que tem apelo poético: daí a beleza. Em nossa juventude pueril ficamos tontos diante de um velho que fica cai ao lembrar das suas possibilidades irrealizadas... seriamos nós o passado dele, no presente? Obrigado Glaucia.\
João,
Como fala o pessoal daqui:"Imagina!" Como você disse é poético e é por isso que torna esse "pensamento" belo. Acho que é um momento de reflexão acerca das nossas tomadas de posição diante dos fatos. A velhice (isso parece muito batido) não é uma questão cronológica, mas de como a gente leva a nossa vida.Quando você se questiona se "seriamos nós o passado dele, no presente?" Imagino que esse é um dos aspectos possíveis para quem observa o poema de Kaváfis.Acho que é isso. Obrigada você.
Beijo
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